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Medicina da USP se mobiliza após tentativas de suicídio

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Painel pintado por alunos do 4º ano de medicina da USP no subsolo da faculdade.

Ao menos seis casos foram registrados neste ano

Um série de tentativas de suicídio entre alunos do quarto ano de medicina da USP tem mobilizado estudantes e professores de uma das melhores faculdades do país.

Ao menos seis casos foram registrados neste ano –três nas últimas semanas.

O clima de tensão aparece em páginas do Facebook dos estudantes –que citam “surto de suicídios”– e em textos de professores aos alunos.

“Ficamos muito chocados com os acontecimentos recentes envolvendo a saúde dos alunos. Há uma grande apreensão e tristeza pairando em todos nós”, escreveu o coordenador do curso de clínica médica do quarto ano, Arnaldo Lichtenstein, que adiou a prova na última sexta (7).

Em outra carta, um grupo de profissionais do serviço de psicoterapia do IPq (Instituto de Psiquiatria da USP) fala sobre a angústia dos alunos.

“Esgotamento, ansiedade, depressão, internações psiquiátricas, tentativas de suicídio, mortes. Os relatos [dos estudantes] nos parecem crescentes em frequência e intensidade, e soam como um pedido de ajuda.”

O texto fala sobre as dificuldades em lidar com o assunto no ambiente acadêmico e termina com um convite para que os alunos saiam do silêncio e falem “do que não se fala, a não ser na privacidade dos corredores”.

Na condição de anonimato, a Folha conversou com seis estudantes. Eles relatam que, no quarto ano, o aluno fica mais vulnerável porque as pressões se multiplicam.

“A formatura está próxima e a realidade da profissão vai matando as ilusões dos tempos de calouros. Há disputas infantis por notas, muitas divulgadas nominalmente.”

Outro afirma que não existe tempo suficiente para atividades que não estejam ligadas ao mundo médico. As aulas começam às 8h e terminam às 18h quase todos dias.

“Além do cansaço mental, da desumanização cotidiana, temos que ter a cabeça tranquila para estudar doenças.”

Os alunos apontam como um dos focos do problema a disciplina de clínica médica. “Em apenas dez semanas de duração, somos cobrados sobre fisiopatologia das doenças, sobre diagnósticos e sobre quais exames solicitar para excluir ou confirmar hipóteses”, relata um deles.

Ele se queixam também que a saúde mental do aluno não é considerada quando se trata de faltas. “As notas de conceito [quase 50% da nota final] são multiplicadas pela frequência. Se o aluno está deprimido, não consegue ir às aulas. Mas não podemos faltar sem punição. Não temos tempo para cuidar da nossa saúde mental e física.”

Outro fator de estresse são as “panelas”. No quarto ano, são formados grupos de cerca de 15 alunos para o estágio obrigatório (internato).

Em várias universidades, como na Unicamp, os grupos são formados por sorteio, mas, na USP, é por livre escolha. São os alunos que decidem com quem se agruparão, o que gera grupos de exclusão e perseguição.

“Alunos mal vistos ou que não são bem relacionados, por inúmeros motivos, acabam sobrando e formando a famigerada ‘panela lixo’ ou são excluídos e têm que mendigar uma vaga entre os grupinhos já formados.”

APOIO PSICOLÓGICO

Para Francisco Lotufo Neto, professor de psiquiatria indicado pela diretoria da FMUSP para falar sobre o assunto, as tentativas de suicídio estão relacionadas a uma soma de fatores.

“São jovens em amadurecimento, enfrentando a entrada numa profissão que tem contato com o sofrimento humano. É um curso difícil, que exige das pessoas. Também há a pressão pelo sucesso.”

Em sua opinião, isso tudo leva a uma maior predisposição à depressão, que é mais prevalente entre os estudantes de medicina do que na população em geral.

Segundo ele, na comissão de graduação já existe um grupo que acompanha os alunos com dificuldades (por exemplo, que foram mal nas provas ou que têm faltado às aulas), mas que agora, após as tentativas de suicídio, foi criado um grupo de atendimento psicológico para atendimento individualizado.

Foi instituída também uma linha telefônica que funciona 24 horas para onde os alunos podem ligar em situações de emergência. “Fiquei como plantonista o fim de semana todo, mas ninguém ligou”, diz Lotufo.

Sobre as queixas relativas à falta de tempo dos alunos, ele afirma que a nova grade curricular da medicina, implantada a partir de 2015, já prevê mais tempo livre aos alunos. “O atual quarto ano ainda segue a grade antiga.”

Em relação às panelas, disse que já houve uma proposta da direção em adotar sorteios na formação dos grupos, mas que a maioria dos alunos foi contrária à ideia.

Sinais de Alerta
falar sobre querer morrer
procurar formas de se matar
falar sobre estar sem esperança ou sobre não ter propósito
falar sobre estar se sentindo preso ou sob dor insuportável
falar sobre ser um peso para os outros
aumento no uso de do álcool e drogas
agir de modo ansioso, agitado ou irresponsável
dormir muito ou pouco
se sentir isolado
demonstrar raiva ou falar sobre vingança
ter alterações de humor extremas
quanto mais sinais, maior pode ser o risco da pessoa

O que fazer

não deixar a pessoa sozinha
tirar de perto armas de fogo, álcool, drogas ou objetos cortantes
ligar para canais de ajuda
levar a pessoa para uma assistência especializada
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress

Alguns pontos de alerta para depressão em adolescentes:

Mudanças marcantes na personalidade ou nos hábitos
Piora do desempenho na escola, no trabalho e em outras atividades rotineiras
Afastamento da família e de amigos
Perda de interesse em atividades de que gostava
Descuido com a aparência
Perda ou ganho inusitado de peso
Comentários autodepreciativos persistentes
Pessimismo em relação ao futuro, desesperança
Disforia marcante (combinação de tristeza, irritabilidade e acessos de raiva)
Comentários sobre morte, sobre pessoas falecidas e interesse por essa temática
Doação de pertences que valorizava
Cerca de 90% das pessoas que morrem de suicídio possuíam transtornos mentais. Elas poderiam ser tratadas e acompanhadas

Mitos em relação ao suicídio

Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir uma pessoa a isso
Questionar sobre ideias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e franco, fortalece o vínculo com uma pessoa, que se sente acolhida e respeitada por alguém que se interessa pela extensão de seu sofrimento.

Ele está ameaçando o suicídio apenas para manipular…
Muitas pessoas que se matam dão previamente sinais verbais ou não verbais de sua intenção para amigos, familiares ou médicos. Ainda que em alguns casos possa haver um componente manipulativo, não se pode deixar de considerar a existência do risco de suicídio.

Quem quer se matar, se mata mesmo
Essa ideia pode conduzir ao imobilismo. Ao contrário dessa ideia, as pessoas que pensam em suicídio frequentemente estão ambivalentes entre viver ou morrer. Quando falamos em prevenção, não se trata de evitar todos os suicídios, mas sim os que podem ser evitados.

Veja se da próxima vez você se mata mesmo!
O comportamento suicida exerce um impacto emocional sobre nós, desencadeia sentimentos de franca hostilidade e rejeição. Isso nos impede de tomar a tentativa de suicídio como um marco a partir do qual podem se mobilizar forças para uma mudança de vida.

Uma vez suicida, sempre suicida!
A elevação do risco de suicídio costuma ser passageira e relacionada a algumas condições de vida. Embora a ideação suicida possa retornar em outros momentos, ela não é permanente. Pessoas que já tentaram o suicídio podem viver, e bem, uma longa vida.

Telefones e sites de ajuda:
Centro de Valorização da Vida (CVV): 141
Também é possível entrar em contato e receber apoio emocional do CVV via internet, a partir de email, chat e Skype 24 horas por dia

Folha de S. Paulo

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Caixa inicia pagamento do Bolsa Família e Auxílio Gás, segunda (16)

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Pagamento será antecipado para alguns municípios dos estados de Alagoas, Amazonas, Paraná, Roraima, São Paulo e Sergipe

 

 

A CAIXA inicia, nesta segunda-feira (16), o pagamento dos Programas Bolsa Família e Auxílio Gás dos Brasileiros referentes ao mês de junho. As famílias que recebem seu benefício pelo CAIXA Tem podem movimentar os recursos pelo App. O pagamento do benefício é realizado de acordo com o final do Número de Identificação Social – NIS. Ao todo, cerca de 20,5 milhões de famílias recebem o Bolsa Família e 5,3 milhões serão beneficiadas com o Auxílio Gás.

 

A CAIXA, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, realizará o pagamento do benefício referente ao mês de junho de 2025 no primeiro dia do calendário, independentemente do número do NIS, para beneficiários de alguns municípios dos estados de Alagoas, Amazonas, Paraná, Roraima, São Paulo e Sergipe, em razão de decretos de situação de emergência provocados por condições climáticas.

 

Confira o calendário regular de pagamentos deste mês:

 

Os canais para consulta de informações e movimentação dos valores permanecem os mesmos: App CAIXA Tem, terminais de autoatendimento, Unidades Lotéricas, correspondentes CAIXA Aqui, além das agências da CAIXA.

 

A CAIXA disponibiliza também o Aplicativo Bolsa Família com informações sobre o Programa.

 

Auxílio Gás:

O benefício visa mitigar o impacto do preço do gás de cozinha no orçamento das famílias. Atualmente, cerca de 5,3 milhões de famílias recebem, bimestralmente, 100% do valor da média nacional do botijão de gás de cozinha de 13 quilos. Em junho, o valor será de R$ 108,00.

 

Os pagamentos são realizados de acordo com o final do NIS do beneficiário e seguem o calendário de pagamento do Programa Bolsa Família. As famílias beneficiárias poderão consultar as informações das parcelas nos Aplicativos Bolsa Família, CAIXA Tem, pelo Portal Cidadão ou pelo telefone 111.

 

Como utilizar o benefício:

Os beneficiários podem movimentar os valores preferencialmente pelo App CAIXA Tem, não sendo necessário ir até uma agência para saque do benefício. Os beneficiários também podem utilizar o cartão para realizar compras nos estabelecimentos comerciais por meio da função de débito bem como realizar saques em Unidades Lotéricas, Correspondentes CAIXA Aqui, além das agências da CAIXA.

 

Nos terminais de autoatendimento, o saque pode ser realizado sem cartão com identificação biométrica, cadastrada previamente.

 

Aplicativo CAIXA Tem:

Pelo App CAIXA Tem, é possível realizar compras em supermercados, padarias, farmácias e outros estabelecimentos com o cartão de débito virtual e QR Code, por meio de mais de nove milhões de maquininhas de cartão espalhadas por todo o Brasil.

 

O beneficiário também pode realizar o pagamento de contas de água, luz, telefone, gás e boletos em geral pelo próprio App ou nas Unidades Lotéricas, bem como fazer Pix.

 

Utilizando o App CAIXA Tem, também é possível fazer saques nas Unidades Lotéricas, Correspondentes CAIXA Aqui e terminais de autoatendimento por meio da geração de token diretamente no App.

 

Mais informações sobre o pagamento do Bolsa Família podem ser consultadas no site do banco.

 

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Cerca de 97 mil famílias do Estado de São Paulo podem perder sinal de TV

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Cerca de 97 mil moradores do Estado de São Paulo ainda não procuraram a Siga Antenado para substituir as antenas parabólicas tradicionais pelo modelo digital, e o prazo para agendamento da instalação termina em 30 de junho, às 20h (horário de Brasília). As famílias que não fizerem a troca poderão ter problemas para assistir à TV, já que, em breve, o sinal da parabólica deixará de funcionar.
O agendamento e a instalação gratuita são realizados pela Siga Antenado, entidade não governamental e sem fins lucrativos, criada pela Anatel para apoiar a população na migração da tecnologia. A substituição dos equipamentos é importante porque muitas emissoras já deixaram de transmitir seus canais pelo sinal das parabólicas tradicionais, e outras farão o mesmo em um futuro próximo.

Com a nova parabólica digital, é possível assistir TV com som e imagem de alta qualidade, sem interferências, dando adeus aos chiados e chuviscos. O novo equipamento disponibiliza atualmente mais de 140 canais, com notícias, entretenimento, desenhos, filmes, séries, programas religiosos, programação local e muito mais. Em todo o país, quase 5 milhões de famílias já foram beneficiadas.
Para receber o novo equipamento, é necessário estar inscrito em algum programa social do Governo Federal e possuir uma parabólica tradicional em funcionamento. A instalação é realizada sem custo para as famílias elegíveis. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone 0800 729 2404 ou acessar o site sigaantenado.com.br, informando o CPF ou o Número de Identificação Social (NIS) no momento do atendimento.

Leandro Guerra, presidente da Siga Antenado, destaca que é importante fazer a substituição da parabólica o quanto antes. “O fim da parabólica tradicional já começou, e quem não fizer a troca a tempo ficará sem sinal. A nova parabólica digital tem muitas vantagens em relação à antiga e a família vai perceber uma verdadeira evolução na hora de assistir TV”, afirma Guerra.

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 Cotas para alunos PCDs e salas de regulação sensorial para autistas são aprovadas pela Alesp

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Plenário também aprovou regras de acessibilidade e a autorização para a criação de um centro de atendimento especializado; textos seguem para Executivo, que pode sancionar ou vetar propostas

Parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovaram, em Sessão Extraordinária realizada nesta quarta-feira (11), diferentes projetos de lei em defesa da população com deficiência. Entre as propostas estão a criação de cotas para PCDs em instituições estaduais, equipamentos para autistas e mecanismos de acessibilidade.
As propostas foram aprovadas pela Casa de forma unânime e, agora, seguem para sanção, ou veto, do Executivo.
Cotas para PCDs
Proposto pelas deputadas Clarice Ganem (Podemos) e Andréa Werner (PSB), o Projeto de Lei 1023/2023 busca reservar vagas para pessoas com deficiência em cursos técnicos e em universidades estaduais.
A proposta determina que a instituições reservem vagas em proporção respectiva à população de pessoas com deficiência no estado de São Paulo, de acordo com Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Se sancionado, o projeto determina um prazo de dois anos para a adaptação das instituições estaduais.
“A reserva de vagas é uma política pública eficiente no curto prazo para equilibrar disputas que tradicionalmente se dão entre pessoas em condições desiguais. Infelizmente, as instituições paulistas ainda não tomaram a iniciativa de estabelecer cotas para pessoas com deficiência, de modo que cabe ao Poder Legislativo agir para preencher esse vácuo”, justificaram as autoras.
Salas de regulação sensorial
Projetadas para proporcionar um ambiente calmo e tranquilo, com diferentes estímulos controlados, como luzes e sons suaves, as salas sensoriais para autistas estão contempladas no Projeto de Lei 1612/2023, de autoria da deputada Solange Freitas (União), aprovado nesta noite.
“Estamos pensando nas famílias atípicas e nos autistas que, em momentos de crise, vão ter onde ficar e se acalmar com tranquilidade”, disse a parlamentar. “Quero agradecer à Autistas Brasil, que me ajudou a redigir esse projeto, nessa luta tão importante”, completou Solange.
A proposta busca tornar obrigatória a instalação dessas salas em shoppings, museus e prédios comerciais que tenham a circulação de mais de 2 mil pessoas por dia.
Acessibilidade em hotéis
Também aprovado pelos parlamentares da Alesp, o Projeto de Lei 860/2023, do deputado Barros Munhoz (PSDB), determina a instalação de barras de apoio em banheiros de hotéis, pousadas e hospedarias do estado.

O texto propõe a instalação das barras em 10% do total de boxes para banho destinados à utilização de hóspedes com deficiência ou mobilidade reduzida. “A acessibilidade de pessoas com deficiência, ou pessoas com mobilidade reduzida, como é o caso, também, das pessoas idosas, é essencial no cotidiano de ir e vir das cidades. Qualquer dificuldade que impeça esse direito fundamental, contraria dispositivos constitucionais”, defendeu Munhoz.
Centro de Inclusão
Por fim, o Projeto de Lei 626/2023, de autoria do deputado Rodrigo Moraes (PL), autoriza a criação de um complexo de referência e atendimento especializado para pessoas do espectro autista e com Síndrome de Down.
O equipamento proposto englobaria ações de atendimento psicossocial, médico e inclusão social, além de programas de saúde e educação para o público.

 

Fonte: Assessoria Alesp

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