Conecte-se Conosco

Botucatu

Estudo da Unesp ajuda a reabilitar pacientes pós AVC

Publicado

em

Estudo acaba de ser publicado em uma das mais importantes revistas científicas do mundo

Um estudo clínico pioneiro, criado e desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Unesp, campus de Botucatu (FMB), tem chamado atenção da comunidade científica internacional e surge como uma alternativa promissora para melhorar a evolução clínica de pacientes vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC) que apresentam Negligência Espacial Unilateral.

Essa condição, resultado de um déficit neurológico comum em lesões do hemisfério cerebral direito, leva a pessoa a ter dificuldade para perceber estímulos sensoriais e sensitivos provenientes do hemicorpo esquerdo (braço, perna e campo visual), prejudicando muito a qualidade de vida e reduzindo a possibilidade de uma reabilitação adequada.

A relevância do tema motivou um grupo de pesquisadores da FMB, em meados de abril de 2015, a propor um estudo sobre os efeitos da estimulação elétrica transcraniana na recuperação sensorial de lesões provocadas pelo AVC. A técnica se utiliza de eletrodos não invasivos e indolores, que estimulam a reabilitação motora de braço, perna e visual do lado esquerdo do corpo.

Denominado Trial de Neuro Reabilitação e também conhecido como Eletron Trial, o projeto foi idealizado pelo médico neurologista e professor Rodrigo Bazan, do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da FMB; pelo fisioterapeuta Gustavo J. Luvizutto, pós-doutorado em Neuroestimulação pela FMB e atualmente professor do Departamento de Fisioterapia Aplicada da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e pelo estatístico Hélio Rubens de Carvalho Nunes, do Escritório de Apoio à Pesquisa (EAP) e docente do programa de pós-graduação do curso de Enfermagem da FMB.
Em 2017, a fisioterapeuta Taís Regina da Silva, do setor de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) foi incorporada ao grupo de trabalho, como aluna do programa de pós-graduação de Fisiopatologia em Clínica Médica, tendo o Trial como objeto de sua pesquisa. O projeto também levou ao pós-doutorado de Luvizutto e foi determinante nos rumos de sua carreira acadêmica.

Como foi

Todo o planejamento metodológico do Trial foi desenvolvido pelo estatístico Hélio Rubens, ligado ao EAP/FMB. A aplicação da estimulação cerebral se deu através do couro cabeludo do paciente, na área lesionada pelo AVC. Os participantes foram inicialmente recrutados na Unidade de AVC do HCFMB e nos ambulatórios de neuro vascular sendo, posteriormente, encaminhados ao setor de reabilitação para avaliação inicial por meio de escalas específicas.

Após a triagem, os indivíduos foram convidados a participar do estudo e encaminhados a Unidade de Pesquisa Clínica (Upeclin) da FMB para aplicação da estimulação cerebral pela equipe de reabilitação envolvida. Todos os pacientes receberam fisioterapia convencional e foram acompanhados nos ambulatórios após o término do estudo.

Realização

Pouco mais de sete anos após sua idealização, o Eletron Trial acaba de ter os resultados publicados na revista Annals of Neurology, uma das mais importantes publicações de neurociências do mundo, com alto fator de impacto (11,5). O estudo demonstrou que pacientes submetidos a estimulação elétrica transcraniana por corrente contínua associada a um protocolo de reabilitação tiveram uma evolução 30% superior aqueles que se limitaram ao tratamento convencional.

“Nós vimos que com a neuromodulação, o ganho da fisioterapia foi acelerado. Funcionalmente, percebemos uma melhora no estado de saúde do paciente no que se refere a parte motora, permitindo independência para se alimentar, para se vestir, para marcha. O resultado é visível e bastante promissor”, afirma Taís Regina.

O Trial possibilitou à fisioterapeuta o primeiro contato com a neuromodulação, através de treinamentos na USP de São Paulo e de Ribeirão Preto. Os conhecimentos adquiridos foram incorporados a sua prática clínica. Segundo ela, o convite para desenvolver o trabalho de doutorado nessa área foi ao mesmo tempo gratificante e desafiador. “Quando o Dr. Bazan e o Dr. Gustavo me ofereceram como um projeto de doutorado eu fiquei muito honrada. Por se tratar de um estudo grande confesso que também fiquei um pouco assustada. Mas foi, acima de tudo, um privilégio fazer parte do grupo que desenvolveu o Trial. Tivemos muitas dificuldades ao longo do caminho. Aprendi muito, tanto na parte da pesquisa quanto na parte clínica. E, ao final, ter o estudo publicado em uma revista de alto impacto, comprova a relevância do trabalho, que se iniciou em Botucatu mas foi multicêntrico. Esta publicação tem um peso muito grande para meu currículo profissional como pesquisadora”, avalia.

O rigoroso protocolo criado para o desenvolvimento da pesquisa, combinado com um público extremamente fragilizado e dependente, aumentou ainda mais as dificuldades inerentes a um projeto inovador como o Eletron Trial. “O protocolo era bem pesado. A maior dificuldade foi o acesso à reabilitação. A maioria dos participantes dependia de condução para trazê-los até aqui. Como são dependentes precisavam de um acompanhante também. Essa foi uma das principais barreiras. Eram quinze sessões tendo que vir duas vezes por semana. Foram selecionados inicialmente quarenta e cinco pacientes. Alguns faleceram, outros desistiram do estudo, mas acabamos atendendo mais de cinquenta. É uma alegria poder reabilitá-los. É o combustível para a nossa profissão”, destaca Taís.

Sonho acadêmico

Desde a graduação, o fisioterapeuta Gustavo Luvizutto se dedica à reabilitação de pacientes com AVC. Ao longo de anos pôde observar que indivíduos com negligência espacial tinham uma recuperação prejudicial em relação a outros pacientes, com maior tendência a ficar em cadeira de rodas ou acamados. “A ideia desse estudo foi justamente encontrar novas estratégias de reabilitação que tivessem impacto positivo na recuperação desses indivíduos. Na última década, junto com o Dr. Rodrigo Bazan, desenvolvemos uma linha sólida de reabilitação após AVC e esse Trial foi a idealização de um grande sonho acadêmico. O estudo abriu portas para me tornar docente universitário, além de ampliar minha rede de pesquisa no assunto, possibilitando coordenar pesquisas com parcerias nacionais e internacionais”, revela.

Questionado sobre o significado da publicação do estudo em uma revista científica tão importante, Luvizutto ressalta que o reconhecimento da comunidade científica internacional passa pelo crivo de trabalhos em periódicos de alto impacto. A publicação na Annals of Neurology, segundo ele, consagra anos de parcerias científicas e de assistência com qualidade a pacientes com AVC. “Essa publicação permitirá o engajamento do grupo de pesquisa com grupos no exterior e possibilitará futuras parcerias de pesquisas com objetivo de encontrar terapêuticas cada vez mais eficazes para aumentar a recuperação em nível de atividade e participação de pacientes com AVC. É imperativo que utilizemos cardápios de intervenções de reabilitação baseadas em evidências e adequadas para a nossa realidade. Assim, poderemos impactar drasticamente a qualidade de vida de milhões de pessoas com AVC”, afirma.

Oportunidades

Para o professor Rodrigo Bazan, o Eletron Trial já pode ser considerado um marco na reabilitação pós-AVC no Brasil, por se tratar de um estudo de alto impacto, capaz de produzir desdobramentos positivos na área de reabilitação neurológica e com possibilidade de se transformar em uma opção terapêutica para os pacientes, já que se utiliza de uma técnica de baixo custo, segura, relevante e com base científica caminhando para comprovar sua efetividade.

“É um trabalho baseado em neuromodulação cerebral, técnica que estimula os neurônios da área afetada pelo AVC melhorando a rede neuronal e usando a plasticidade cerebral para o indivíduo se recuperar mais rápido. O AVC é uma doença devastadora, uma das principais causas de mortes no país e seguramente uma das principais causas de incapacidade no mundo. Quando desenhamos um estudo audacioso, que mostra que uma técnica simples, aliada ao treinamento adequado de profissionais que trabalham com o assunto pode impactar positivamente na vida do paciente e de sua família, é gratificante demais”, declara.

Estimativas apontam que a síndrome de negligência espacial unilateral atinge cerca de 30% dos indivíduos com AVC do Hemisfério Cerebral Direito e pode ser persistente em até 75% desses pacientes em uma fase crônica. Porém, esse número tende a ser ainda maior devido a alta subnotificação, já que muitos casos não são identificados nos serviços de urgência e emergência.

“O grande problema é que muitas vezes a negligência não é avaliada pela equipe clínica. Por não ser um déficit diretamente de linguagem, de visão e da fala, ele pode passar desapercebido. No Trial eram aplicados testes específicos para graduação da negligência e avaliação de maneira bem detalhada. Muitas vezes, na prática clínica, há dificuldade em aplicar esses mesmos testes num cenário de urgência e emergência. Esse déficit interfere nas atividades de vida diárias, no relacionamento, aumenta riscos de queda, dificuldade na reabilitação. Tem um impacto grande na vida do indivíduo se não for reconhecido prontamente e estabelecida a estratégia adequada de tratamento para esse paciente”, adverte Bazan.

Segundo o docente e pesquisador, o Eletron Trial trouxe ganhos para vários setores do HC e da FMB já que ao longo dos anos envolveu alunos de pós-graduação, doutorado, pós-doutorado, equipe da área multiprofissional, da reabilitação, além de vários apoiadores. Além disso, o estudo também foi determinante para sua própria evolução acadêmica. “Para mim, como pesquisador e um dos idealizadores do estudo foi uma oportunidade enorme de conviver com as pessoas, aprender com esse mundo da pesquisa baseada em evidência. E em termo acadêmicos eu diria que foi decisivo para minha evolução profissional. Recentemente fiz a defesa de minha livre-docência e o Eletron Trial foi uma das peças fundamentais para que eu tivesse destaque em meu memorial, no meu currículo e na minha estrutura de progressão acadêmica”.

Futuro

No seu entendimento, as conclusões positivas obtidas a partir do Trial justificam a continuidade dos estudos tentando avaliar os desfechos a longo prazo dos pacientes que sobreviveram ao AVC e passaram pela estimulação. Para Bazan, é preciso investir em pesquisas capazes de oferecer novas ferramentas para que o processo de reabilitação seja mais ágil e efetivo.

“A marca do AVC é a incapacidade. O indivíduo está bem e horas depois está com déficit que pode determinar o restante de sua vida e de sua família. Quando você reabilita esse paciente e o traz de volta com possibilidade de sociabilizar com a família, voltar ao ambiente de trabalho, isso é maravilhoso. Essa técnica, usamos em um cenário específico. Ela pode ser reproduzida em outros cenários possivelmente. Já temos estudos na literatura mundial mostrando melhora no equilíbrio, melhora na força, na marcha, até na visão. Tudo que nós queremos é que o paciente seja reabilitado após um evento traumático como o AVC”, comenta.

O apoio e a estrutura disponibilizados pela FMB e pelo HCFMB também são apontados por Bazan como determinantes para o sucesso do estudo. Ainda assim, o docente costuma dizer que fazer pesquisa no Brasil, por si só, já é uma grande vitória. “O Trial envolveu muita superação e mostrou que é possível fazer pesquisa de qualidade no país, mesmo com baixo recurso. Quando as pessoas têm boa vontade, têm foco no que estão fazendo, é possível. Isso ficou evidenciado para mim e vou guardar pelo resto da minha carreira acadêmica. Fica evidente também que quando você tem um projeto bom e bem feito, os órgãos de fomento enxergam e financiam”.

Ao recapitular os últimos anos dedicados ao Eletron Trial, Bazan conclui que o estudo é um atestado de resiliência. “Para quem gosta de pesquisa é um caminho difícil, árduo, mas que traz muitos benefícios. Para a equipe envolvida, em termos de capacitações técnicas. Para os pacientes, com potenciais benefícios para o futuro. E para a instituição por trazer um alto nível de excelência. É especial ver um grupo de mais de trinta pessoas envolvido por cinco ou seis anos com um projeto, se doando em finais de semana, feriados, trabalhando arduamente. O reconhecimento da relevância desse trabalho coroa todo esforço dessa equipe ao longo dos últimos anos. É uma retribuição para a FMB, para o HC, para os pacientes e todos que acreditaram nesse projeto”, conclui.

Parcerias

O Trial de Neuro Reabilitação recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e CNPq. A concretização do projeto teve entre os apoiadores: Escritório de Apoio à Pesquisa (EAP-FMB), Setor de Reabilitação do HCFMB, Unidade de Pesquisa Clínica (Upeclin/FMB), Disciplina de Neurologia Clínica (FMB), Unidade de AVC (HCFMB), Rede Nacional de Pesquisa Clínica em AVC, Empresa Proibras (sr. Flávio Wallis); Professora Adriana Bastos Conforto (USP/São Paulo), Professora Taíza Elaine Grespan Santos Edwards e Professor Octávio Marques Pontes Neto (USP/Ribeirão Preto), Luan R. Aguiar dos Santos e Diandra B. Favoretto, alunos de pós-graduação (USP/Ribeirão Preto), Dr. Vitor Mendes Pereira, neurocirurgião do Toronto Western Hospital (Canadá) e ex-aluno da neurocirurgia da Unesp/Botucatu, além dos pacientes que se dispuseram a participar do estudo.

Para acessar a íntegra do estudo publicado na revista Annals of Neurology clique aqui.

Continuar Lendo
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botucatu

Reta Rápido emite nota oficial sobre greve

Publicado

em

Nota à imprensa – Reta Rápido

A Reta Rápido Transportes Ltda. vem a público lamentar e esclarecer os fatos referentes à greve abusiva deflagrada por parte de seus funcionários no dia de hoje (12).

Nota de Esclarecimento
Botucatu, 12 de junho de 2025
A Reta Rápido Transportes Ltda. vem a público lamentar e esclarecer os fatos referentes à greve abusiva deflagrada por parte de seus funcionários no dia de hoje.
É fundamental ressaltar que a Reta Rápido Transportes jamais se negou a negociar com o Sindicato da categoria. Pelo contrário, as tratativas para buscar uma solução consensual estão em andamento contínuo. Prova disso é a audiência já designada para o dia 13 de junho de 2025 no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT15), onde a empresa espera avançar nas negociações e resolver o impasse.
Apesar da disposição da empresa em dialogar, presenciamos com grande preocupação a conduta inaceitável de parte dos trabalhadores, que, de forma deliberada, murcharam os pneus dos ônibus, impedindo a saída dos veículos e, consequentemente, o cumprimento das linhas. Essa ação irresponsável causou graves prejuízos à sociedade botucatuense, que ficou sem o serviço essencial de transporte público, afetando o deslocamento de milhares de cidadãos para suas atividades diárias.
A Reta Rápido Transportes Ltda. reitera seu compromisso com a legalidade e com a população de Botucatu. Diante dos atos de vandalismo e da interrupção injustificada do serviço, a empresa informa que todas as medidas legais cabíveis serão tomadas para apurar as responsabilidades e mitigar os danos causados.
Agradecemos a compreensão da população e reforçamos que estamos empenhados em restabelecer a normalidade do serviço o mais breve possível.
Atenciosamente,
Reta Rápido Transportes Ltda.

Continuar Lendo

Botucatu

CLAI/FMB forma primeira turma no curso de LIBRAS

Publicado

em

Iniciativa amplia as competências dos servidores e estudantes e demonstra a valorização da diversidade e a preocupação com atendimento adequado às pessoas surdas

 

No último dia 29 de maio aconteceu o encerramento das atividades do 1º Curso de Extensão em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) promovido pela Comissão Local de Acessibilidade e Inclusão (CLAI) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/UNESP). Nessa primeira turma foram disponibilizadas 22 vagas, formando servidores técnico-administrativos, docentes e alunos.

 

Realizado na modalidade presencial e com 60 horas de duração, o curso teve como foco a acessibilidade na área da saúde, com objetivo de proporcionar aos participantes o domínio básico da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), permitindo uma comunicação inicial eficaz com pessoas surdas e ensinando conceitos fundamentais para uma interação mais inclusiva e sensível.

 

A ideia desse treinamento surgiu durante uma das reuniões da CLAI e atendeu sugestão apresentada por uma discente de graduação. Os recursos foram viabilizados pela Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão (CPAI/UNESP). “A proposta ressalta a importância de preparar nossos servidores técnico-administrativos, docentes e o corpo discente para interagir com as pessoas que têm deficiência auditiva. E a Língua Brasileira de Sinais, oficial em nosso país, é um instrumento que nos permite receber essas pessoas e integrá-las no dia a dia da nossa universidade”, comenta o professor Pedro Luiz Toledo de Arruda Lourenção, vice-diretor da FMB e coordenador da CLAI.

 

A formação em LIBRAS não apenas amplia as competências dos servidores e estudantes, mas também demonstra a valorização da diversidade e o comprometimento em remover barreiras de comunicação que podem excluir determinados grupos da sociedade.

 

“Em vista dessa relevância buscamos os recursos e fomos contemplados pela CPAI. Todos que fizeram o curso o avaliaram positivamente, dizendo que foi uma experiência muito valida. Com isso conseguimos fazer com que integrantes da nossa comunidade acadêmica passem a estar preparados para receber pessoas que fazem uso de LIBRAS para se comunicarem. Isso fará grande diferença para nossa unidade, na interação entre a universidade e a sociedade”, completa Lourenção.

 

Segundo o psicopedagogo Alberto Jorge dos Santos, que junto com sua esposa Patrícia ministrou as aulas, essa modalidade de curso vai além do básico, abordando não apenas os sinais relacionados à área da saúde, mas também capacitando os alunos a compreenderem as diferenças culturais e comunicacionais da comunidade surda.

 

“A comunicação é um pilar fundamental no atendimento à saúde e garantir acessibilidade é um compromisso ético dos profissionais da área. O atendimento clínico em LIBRAS permite que pacientes surdos sejam atendidos de forma humanizada e eficiente, promovendo uma compreensão clara das queixas, diagnósticos e tratamentos. Profissionais capacitados em LIBRAS não só ampliam o acesso à saúde, mas também fortalecem a confiança e o vínculo com o paciente, garantindo um cuidado integral e inclusivo. Incluir LIBRAS no atendimento é um passo essencial para uma prática de saúde mais justa e acessível a todos”, enfatizam.

 

Avaliação

Supervisora do Centro de Saúde Escola (CSE/FMB), a professora Paula Hokama classificou sua participação no curso de LIBRAS como uma experiência transformadora, tanto no aspecto pessoal quanto profissional. Segundo ela, duas situações vivenciadas sintetizam o impacto que esse aprendizado teve sobre sua percepção da surdez e da comunicação.

“Logo no início das aulas, o professor Alberto colocou uma música na sala e convidou um aluno a dançar com sua esposa, a professora Patrícia. No começo, fiquei confusa e até um pouco desconcertada. Eles são surdos ou não? Qual seria o propósito da proposta? Mas tudo ficou claro quando o aluno começou a conduzir a professora e ela o acompanhou com leveza e precisão. Patrícia não escutava a música, mas dançava, porque era guiada com atenção e sintonia, como fazem as dançarinas mais experientes. Foi quando compreendi: se há alguma limitação de um sentido, há também tantas outras capacidades preservadas. A comunicação e a expressão continuam plenas. Ali entendi que LIBRAS não é apenas um novo idioma, é um universo que se abre. E, mais do que isso, percebi que a limitação, muitas vezes, está em mim, e não na pessoa com surdez”, relata.

A segunda situação lhe marcou profundamente como profissional da saúde. O professor relatou o caso de uma equipe do SAMU que atendia uma vítima de acidente na rua. A pessoa estava muito agitada e ninguém entendia o motivo. Até perceberem que se tratava de uma pessoa surda, tentando se comunicar em LIBRAS. “A imobilização forçada, necessária em tantos casos, era para ela um agravante da angústia. Aquela contenção era, justamente, o que ela mais precisava evitar. A lição foi clara: em contextos de urgência, é fundamental considerar a possibilidade de estar diante de uma pessoa surda e estar preparado para isso”.

 

Para Hokama, essas duas vivências mostraram que LIBRAS não é apenas uma ferramenta de inclusão. “É uma forma de escuta. Uma escuta que se faz com os olhos, com as mãos, com a presença, e que, por isso mesmo, é profundamente humana”, completa.

 

Outra aluna a concluir o curso foi a Dra. Renata Maria Zanardo Romanholi, pedagoga e coordenadora do Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP/FMB). Para ela, a iniciativa é fundamental  para promover a inclusão das pessoas surdas e contribui para a formação de profissionais de saúde mais sensíveis e preparados para atender às diversidades e às necessidades da população. “Como educadora, reconheço que a oportunidade de vivenciar e aprender a Língua Brasileira de Sinais me fez repensar algumas práticas adotadas que temos durante a graduação na área da saúde”, destaca.

 

Enquanto dirigente do Núcleo de Apoio Pedagógico, Renata diz que o desafio é refletir sobre como essas práticas têm sido trabalhadas ao longo da formação nos cursos de Enfermagem e Medicina, não apenas considerando os futuros pacientes, mas também os estudantes surdos que podem vir a compor o corpo discente da FMB.

 

“O curso foi uma experiência muito enriquecedora. Estar com professores surdos nos permitiu não apenas aprender LIBRAS, mas também refletir sobre as necessidades dessa comunidade em nossa sociedade e os inúmeros desafios que enfrentam nos serviços de saúde, onde ainda predominam o desconhecimento e o preconceito”, afirmou.

 

Quem também avaliou positivamente a iniciativa foi o servidor Paulo Henrique dos Santos, responsável pela Central de Aulas, da FMB. “Achei excelente a iniciativa. Aprendi muito. Foi uma experiência incrível poder compartilhar com os professores os conhecimentos que eles nos passaram. Os sinais que aprendemos em LIBRAS nos permitem a comunicação com as pessoas surdas, compreender o querem e não ter medo de conversar com eles. Aprendemos que na língua de sinais podemos conversar literalmente com essas pessoas. Foi gratificante aprender o básico para tentar essa comunicação”.

 

 

 

 

 

Ana Julia Calore, aluna do terceiro ano de Enfermagem, também concluiu o curso de LIBRAS. Para ela, um dos maiores diferenciais de estudar na Faculdade de Medicina de Botucatu, é justamente ter a possibilidade de conectar ensino e inclusão em seu processo de formação.

 

“O curso é extremamente essencial, afinal, a acessibilidade para a comunidade surda é majoritariamente um recurso humano. Por isso, foi muito interessante que não apenas alunos da graduação participaram e se dedicaram no curso, mas profissionais atuantes dos serviços de saúde e funcionários da faculdade também tiveram esse interesse em aprender a língua. Sei que um dia serei uma enfermeira mais acessível e capaz de fazer a diferença”, comenta.

 

A estudante faz questão de agradecer a todos que lhe permitiriam vivenciar algo importante para sua vida e sua carreira. “Nossos professores foram incentivadores e abertos a dúvidas, ensinando de forma muito leve e divertida diversos temas que nos auxiliaram a entender melhor a Língua Brasileira de Sinais. Sem contar, que eles mesmos fazem parte da comunidade surda e puderam trazer relatos e vivências pessoais durante as aulas. Sou muito grata aos professores Alberto e Patrícia, aos colegas e amigos do curso de LIBRAS e a faculdade por essa oportunidade”.

 

Continuar Lendo

Botucatu

Prefeitura abre inscrições para o Programa Botucatu Empreendedora

Publicado

em

As inscrições são gratuitas e as vagas são limitadas

Estão abertas e seguem até o dia 30 de junho as inscrições para o Chamamento Público 02/2025 do Programa Botucatu Empreendedora, voltado a empreendedores, empresários e profissionais que desejam expandir seus negócios com o apoio de uma jornada estruturada de capacitações, consultorias e conexões estratégicas.

Estão sendo oferecidos 24 vagas para cada um dos seguintes segmentos: Empreendedorismo Feminino, Serviço, Indústria, Comércio, Agro e Microempreendedor Individual. As inscrições devem ser feitas através DESTE LINK https://linktr.ee/botucatuempreendedora2025

O lançamento oficial do programa ocorreu nesta terça-feira, 10 de junho, no auditório do Parque Tecnológico de Botucatu, com a apresentação de uma palestra com o Tema “Você é o Motor ou o Freio do Seu Negócio?” com o Sr. Danilo Serafim Alves, do Sebrae/SP, um talk-show com empresários de vários segmentos e encerramento com a apresentação do programa aos presentes.

Com foco na valorização da economia local, o Programa Botucatu Empreendedora é totalmente gratuito e uma parceria da Prefeitura de Botucatu, através das Secretaria de Agricultura e de Desenvolvimento Econômico com o Sebrae/SP. A ação reúne soluções práticas para diferentes perfis de negócios, promovendo qualificação profissional, inovação, acesso a mercados e desenvolvimento de competências empreendedoras.

Continuar Lendo

Trending

Copyright © 2021 - Cidade Botucatu - desenvolvido por F5