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Bahige Fadel

DONOS DO MUNDO – por Bahige Fadel

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DONOS DO MUNDO

Há alguns dias ouvi uma entrevista de um político derrotado nas últimas eleições e fiquei estarrecido. O tom de voz, as palavras chulas, o tom raivoso revelavam a pretensão de ser o dono do mundo. E para ser o dono do mundo, uma pessoa tem que ser o dono de todas as verdades, de todos os pensamentos, de todos os sentimentos, de todos os bens materiais, mas também de todas as soluções. Se o cara não tiver a capacidade de ser dono das soluções, como poderá pretender ser o dono do mundo?

Foi assim que vi aquele político, naquele momento. Parecia saber tudo e poder tudo. Tentou convencer seus interlocutores de que o presidente eleito não sabia nada e não podia nada. Relacionava fatos que ou não eram comprovados ou não tinham relevância alguma e oferecia ‘soluções’ que não eram esclarecidas e cuja eficácia era duvidosa. Mas falava tudo com pompa tal que parecia viável e indispensável.

E isso me deixou estarrecido. Depois que a estupefação passou, comecei a refletir sobre o político derrotado e outras coisas relacionadas. Caramba! Como é que o sujeito pode se achar dono do mundo a tal ponto que deseja nos convencer de que é melhor do que todos nós que o ouvimos? Será que um dono do mundo não imagina a possibilidade de que haja alguém que saiba mais do que ele? Será que um dono do mundo não consegue perceber que pode haver pessoas mais capazes do que ele? Um dono do mundo, como esse que ouvi há alguns dias, deve achar que, quando ele morrer – se é que pensa que um dia poderá morrer – o mundo se acabará ou, na melhor das hipóteses, ficará sem dono e encontrará o caos.

Amigos, somos donos de tão pouca coisa. Às vezes, devemos nos orgulhar de termos conseguido ser donos de nossa própria casa. E devemos nos orgulhar mesmo, pois é tão difícil ter uma. Mas se pensarmos bem, não somos donos absolutos dessa casa, pois, para tê-la, temos que pagar tantos impostos, que começamos a pensar que o governo é nosso sócio majoritário.

Esses dias, estava explicando aos meus alunos um sermão do padre Vieira, que é matéria de vestibular. É o Sermão da quarta-feira de cinza. E ele começa com uma citação bíblica: ‘Sois pó, e em pó vos haveis de converter’. Pois é, até os donos do mundo deveriam refletir sobre isso. Se a gente veio do pó e, fatalmente, no final, a gente se converterá em pó, não custa ser mais humilde, no meio do caminho.

                                                                                  BAHIGE FADEL

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DESCOBERTAS, artigo de Bahige Fadel

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DESCOBERTAS

Há um ditado popular sobre o qual estive pensando nesses dias: ‘O tempo é o senhor da razão’. Quando eu era jovem -isso já faz muito tempo – eram os velhos que a falavam. E a gente não dava bola para o que eles diziam. Parecia não ter sentido. Coisa de velhos, a gente pensava. Os velhos acham que sabem mais do que a gente, continuávamos pensando.

Mas a gente envelhece – feliz ou infelizmente – e começa a mudar de opinião sobre certas coisas. Uma delas é essa: o significado dessa frase. E começamos a perceber que ela faz sentido, embora não seja uma verdade absoluta. É que  alguns velhos, com o tempo, só ganharam rugas e dores, nada mais. Continuam incapazes de mudar.   Que mudar significa fraqueza, não sabedoria.

Lembro-me de um tempo em que algumas pessoas estufavam o peito e diziam, como se fosse uma grande virtude: Tenho personalidade, não mudo de opinião. Querem coisa mais ridícula do que isso? Onde é que mudar de opinião é falta de personalidade? Você tem que ter muita personalidade e humildade para mudar de opinião, quando encontrar uma opinião melhor. E isso eu vi com o tempo. Não tenho a mínima dificuldade de mudar de opinião, desde que descubra opiniões melhores do que as que eu defendia.

Por exemplo, com o tempo, descobri que determinadas lutas não valem a pena. Lutas que não mudam nada. Lutas com derrota programada. Lutas com desilusões claras. Quer ver? De que adianta lutar contra esse cara que diz não mudar de opinião, por ter personalidade? Qual será o resultado dessa luta? Decepção. Você se desgastará e o adversário continuará pensando da mesma maneira. Com o tempo, a gente começa a selecionar melhor as lutas. Começa a escolher as lutas que é capaz de vencer. Vencendo, haverá alguma melhoria para você e para o mundo. Caso contrário, é melhor deixar tudo como está. E você reserva energias para objetivos mais importantes.
O tempo me ensinou que o ódio não cria nada de bom. É plenamente dispensável. Deve ser evitado. O ódio não causa bem a ninguém. Nem a quem odeia nem a quem é odiado.  Eu me lembro de que, quando estava na faculdade, escrevi um texto que tinha estas frases: ‘O ódio é pesado, o amor é leve. Para que carregar peso?’. Isso não foi o tempo que me ensinou. Aprendi ainda cedo. E a gente vê tanta gente pregando o ódio como solução. O ódio é doença, não remédio.  O ódio é ferida, não cura. E a gente vê tanta gente que sente prazer em odiar. E não estou falando em ódio político, esse disfarçado de bem, de solidariedade…  Desse ódio nem vale a pena falar. Muitos já se incumbem disso.

O tempo me ensinou muitas coisas. Uma delas é que eu preciso cuidar de mim, para poder cuidar dos outros. Não adianta eu querer cuidar dos outros, se eu mesmo não estou bem. A coisa funciona como no avião. A funcionária explica que, em caso de problema, descerão máscaras de oxigênio. Primeiro, a gente coloca a máscara e depois coloca na criança que está ao nosso lado. É que você precisa estar bem, para poder melhorar outras pessoas. Você só poderá melhorar o mundo, se conseguir melhorar a si mesmo.

Outra descoberta é que os amigos são poucos. Na juventude, a gente acha que tem dezenas de amigos. Bobagem. Ser companheiro de cerveja não é ser amigo. Mas isso não é um mal. Muitas vezes, nem as pessoas da família são suas amigas. Você precisa de pouca gente para ser feliz. Em primeiro lugar, deve ser amigo de si próprio. Devemos gostar do que somos. Devemos nos sentir bem com o que somos.

Devemos nos cuidar, para que estejamos bem. Isso é fundamental. Depois, cuidar das pessoas que dependem de você. As pessoas que convivem com você devem estar bem. Depois, dar muita atenção e carinho para as pessoas que procuram deixá-lo melhor. Essas pessoas gostam de você. Essas pessoas são suas amigas. Já contou quantas pessoas são assim?

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COMO AGIR – artigo de Bahige Fadel

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Amigo, você já pensou em como tomou determinadas atitudes?

Você tende a agir por amor, por ódio, por desprezo ou para manter a rotina? Você tem agido com raiva ou com calma? Você tem paciência quando vai tomar determinada decisão ou age afoitamente, sem prever as consequências? Você tem agido por prazer ou por obrigação? Depois de agir, sente alívio, preocupação ou, simplesmente, calma pelo dever cumprido?

Por favor, note os discursos dos homens públicos. Preste bem atenção neles. As palavras são emitidas com raiva. Essas pessoas nem se preocupam em disfarçar a raiva que sentem. Parece que falam com uma metralhadora na mão. Falam com veneno nos lábios. Parece que não há mais adversários; há inimigos. E as palavras são para colocar esses inimigos fora de combate. Esses inimigos são indesejáveis e, por isso, devem ser abatidos. Os que discursam dessa maneira, o que sentem depois? Sentem paz? Improvável. Sentem satisfação? Só se forem sádicos. Sentem o prazer do dever cumprido? Mas que prazer? O de abater o inimigo? Só se acharem que estamos em plena guerra. Sentem orgulho? Orgulho? Quem pode sentir orgulho por ter destruído o próximo? Sentem alívio? Não pode ser. A gente se sente aliviado quando resolve um gran de problema, quando supera uma enorme dificuldade, quando se desfaz de uma insuportável dor. Não consigo imaginar um alivio por destruir o adversário, que é transformado em inimigo.

E aqueles que falam de amor com ódio no tom de voz e na forma de olhar? E os que falam de paz com uma arma (real ou imaginária) nas mãos? E os que falam em igualdade afastando os diferentes? E os que falam em solidariedade apontando para as feridas, sem procurar curá-las? E os que falam em recomeço insistindo nas mesmas fórmulas do passado, para que nada se mude? E os que falam em distribuir o alimento, espalhando tão somente a amarga esperança, que nunca se transforma em realidade? E os que falam em elevar o próximo elevando-se a si próprios?

Nesse contexto, como agir, então? Como esses citados nos parágrafos anteriores? Ou cruzar os braços, como se os problemas não nos pertencessem? Como ser útil para si mesmo e para o outro? Há muitas maneiras boas. Mas uma delas, com certeza, é falar apenas quando for para o bem. Nem tudo deve ser dito, mesmo que seja verdade. Por que dizer a um enfermo que ele morrerá logo, se se pode dizer a ele coisas que confortam, que lhe darão alívio no pouco tempo de vida que lhe resta? Outra maneira é desarmar as mãos, os pensamentos e os espíritos. Há muitas armas mortais no mundo. Não há necessidade das que possamos ter. As armas necessárias são as que edificam, não as que destroem.

Sei que tudo isso parece difícil. Pode ser. Mas há tanta coisa difícil que praticamos sem reclamar. O importante é que tenhamos propósitos edificantes. O importante é saber que se o vizinho estiver em paz, haverá silêncio na vizinhança e, assim, poderemos dormir melhor.

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VIOLÊNCIA, artigo de Bahige Fadel

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VIOLÊNCIA

Caramba! O mundo, que eu saiba, nunca foi pacífico. O instinto beligerante do ser humano sempre prevaleceu. A lei da selva nunca deixou de ser adotada. É a lei do mais forte. Força é poder. Isto é, quem tem a força pode fazer o que bem quer. Com altos e baixos, essa lei nunca deixou de existir. Começou lá nos primórdios, com Abel e Caim. E eles eram irmãos. Prevaleceu o mais forte. Abel, coitado, foi derrotado pelo próprio irmão.

Vejam as guerras que ocorreram ao longo da história da humanidade. A China deve ser o país que mais participou de guerras. Em cada uma delas, milhões de mortos. Só na Rebelião Taiping há em torno de 70 000 000 de mortos. Sim, numa guerra pelo poder, no século dezenove, em catorze anos mataram pessoas que correspondem a um terço da população brasileira. Na Segunda Guerra Mundial, em seis anos, morreram mais de 80 000 000 de pessoas. Na Primeira Guerra Mundial, em quatro anos, em torno de 30 000 000 de mortos. Na Guerra Civil Russa, de 1917, quase 10 000 000 de mortos. O Brasil também não se viu livre dessa luta pelo poder. É só ver os livros de história: a Revolução Constitucionalista de 32, a Guerra de Canudos, de 1896; a Insurreição Pernambucana, de 1645; a Revolta de Beckman, de 1684; a Guerra dos Palmares, de 1630; a Guerra dos Emboabas, de 1707; a Revolução Farroupilha, de 1835; a Guerra do Contestado, de 1912. E por aí vão as guerras em todos os lugares do mundo. E por quê? Para mostrar força. Para impor suas ideias. Para dominar.

E essa violência não para. Violência de todas as formas. Violência manifestada por palavras que provocam violência física, e que também revelam o desejo de poder, de domínio, como a que vimos recentemente no Brasil, ao ameaçarem a vida da família do senador Moro. Violência inexplicável de um adolescente de 13 anos de idade, que entra numa escola e mata uma professora de mais de setenta anos. Como explicar? Loucura? Deficiências na educação? Falta da família? E como explicar a violência de um torcedor de futebol do Rio Grande do Sul, que entra no campo, segurando nos braços uma filha pequena, para agredir a um jogador do time adversário? Como explicar? Ainda bem que o jogador agredido não teve a mesma atitude do agressor, o que não causou maiores danos físicos para a criança. Apenas os danos físicos, porque os psicológicos, o pai não teve a preocupação de evitar.

Como acabar com tudo isso? Infelizmente, não há solução em curto prazo. E lamento dizer que nem em longo prazo vislumbro uma solução.

Como fazer com que uma pessoa, de uma hora para outra, passe a respeitar a si mesma e ao próximo? Como fazer para que as pessoas respeitem o espaço dos outros? Como fazer com que as pessoas passem a aceitar as derrotas como um aprendizado para o aperfeiçoamento? Como fazer para que, de repente, as pessoas prefiram a paz, a harmonia, a concórdia, o entendimento, a tranquilidade? Há um jeito? Ainda não descobri. Mas eu não desisto. Continuo fazendo a minha parte. Só não sei se isso é suficiente.

BAHIGE FADEL

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