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O Julgamento de Sócrates: direto e franco

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Foi apresentado neste sábado (14), com bom público, o espetáculo O Julgamento de Sócrates, o primeiro monólogo de Tonico Pereira em toda a sua carreira. A peça é uma livre-adaptação do livro “Apologia de Sócrates”, escrito por Platão.

A peça começa com um pequeno discurso com a plateia, onde Tonico fala sobre “os Sócrates de sua vida”, pessoas que o inspiraram e ensinaram em sua juventude. Sabemos disso depois, pois durante essa fala não fica muito claro se a peça já começou ou se é um discurso do próprio Tonico. Após isso o ator encarna seu personagem, Sócrates, que é julgado por “corromper a juventude”. Nós, o público, ouvimos sua defesa: “interpretamos” o júri popular ateniense.

Aliás, seria ateniense se a obra não fosse alterada; a adaptação do autor Ivan Fernandes – que também é diretor da peça, juntamente com Tonico – transforma Atenas em Botucatu (ou qualquer cidade onde a peça está sendo apresentada), os políticos gregos em políticos botucatuenses (idem), assim como os artistas e técnicos (médicos, engenheiros, dentre outros). Com isso, a peça aborda diversas atualidades da política nacional, sem ficar um texto militante e produz uma certa crítica social, aplicada também às autoridades supracitadas: políticos, artistas e técnicos. Essa adaptação nos aproxima da figura de Sócrates, afastado de nós por mais de dois mil anos.

As ideias de Sócrates, seu desmascaramento dos falsos sábios e seu contínuo questionamento sobre tudo – características marcantes do filósofo – o levaram até nós, o júri. A peça é uma comédia filosófica (mais filosófica do que comédia), que nos faz pensar a atual situação do país e de nós mesmos. A peça nos mostra também a falta que faz à sociedade alguém que realmente pense, especialmente quando há um distanciamento crítico. A argumentação e franqueza de Sócrates, diferente do que se pensa dos filósofos, é bem direta e sem rodeios, impactando com bem mais intensidade.

O figurino de Sócrates é neutro e atemporal: não representa necessariamente o passado áureo grego, nem necessariamente os tempos de hoje. O mesmo vale para o cenário, o mais simples possível: uma mesa, um cálice e uma cadeira, apenas.

Sócrates parece cansado na peça, talvez por ter que se explicar por algo que não tem nada de errado. Parece também um pouco travado, robótico: será que, no fundo, tenha um medo da condenação?

No final tem mais uma fala com o público, onde novamente não fica muito clara a separação entre peça e discurso, de tal modo que eu não aplaudi no final da peça pois achei que o discurso que viria a seguir também fazia parte do espetáculo.

A peça é uma comemoração dos 50 anos de carreira – e 70 de vida – de Tonico Pereira. O ator já participou de peças, novelas, filmes, seriados e muito mais, especialmente na Rede Globo.

Tonico Pereira, volte sempre!

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